3 de set. de 2010

Ortolona Favarone de Assis



Ortolona Favarone de Assis (+1237) -  2 de Janeiro


Até recentemente os biógrafos insistiam em afirmar que a mãe de nossa fundadora, Santa Clara,  Hortolana, provinha da família de Fiumi, nobres senhores de Sterpeto. Trata-se, como afirma Arnaldo Fortini (Vita Nuova de San Francesco) em seus sérios estudos históricos, de nomes e de genealogias fantásticas fornecidas por historiadores do século XVI,XVII, XVIII, como Tossignano e Wadding e Salvador Vitali. Esses nomes não merecem nenhuma credibilidade e foram inventados para dar importância a nomes e a famílias que queriam fazer derivar sua descendência da família de Santa Clara. Entretanto, certamente Hortolana descendia de uma família nobre. As atuais pesquisas históricas ainda não podem afirmar nada de concreto. Casada com Favarone, dos condes de Offreduccio. O avô de seu esposo foi Bernardo, filho de Offredo. Família riquíssima, nobre e guerreira, possuidora de grandes propriedades e de vários castelos nas proximidades de Assis. Favarone tinha quatro irmãos: Monaldo, Paulo, Ugolino e Scipione (pai de Frei Rufino, que ingressou na Ordem Franciscana), sendo ele o último. Possivelmente depois de casada e antes de ter sua primeira filha, Clara, Hortolana visitou a Terra Santa, acompanhada de Pacífica de Guelfuccio, que posteriormente seria companheira de Clara nos inícios da Ordem das Damas Pobres. É preciso ter presente que a peregrinação à Terra Santa não pode ter tido lugar senão no ano de 1192, porque somente neste ano Saladino, com o contrato de paz que dava fim à III Cruzada, consentia que os cristãos pudessem ir a Jerusalém. Já  no ano seguinte esta possibilidade era retirada aos cristãos por parte dos muçulmanos. Era costume dos cidadãos de Assis empreender peregrinações ao Santuário de São Miguel de Gargano, em Roma, a São Tiago de Compostela, na Espanha, e Veneza, Igreja de São Marcos. A Legenda de Santa Clara e algumas testemunhas no Processo falam que Hortolana empreendeu também peregrinações ao Santuário do Monte Gargano e à tumba dos Apóstolos em Roma (cf. ProcC I,4). Hortolana  teve três filhas: Clara, Catarina (Inês) e Beatriz. É lendário e absolutamente não histórico falar de outros dois filhos de Hortolana e Favarone, precedendo estas três  (Penenda e Bonone). Hortolana cultivou sempre uma vida dedicada à caridade e à prática da piedade cristã, e nestes costumes educou suas filhas, residindo no palácio da praça de São Rufino, em Assis, pertencente à nobreza dos Offreduccio, exceto breves períodos de verão que passava nos castelos dos arredores de Assis, ou também quando a família teve de refugiar-se em Perusa, na guerra entre esta cidade e Assis. Ao aproximar-se o seu primeiro parto orando diante do Crucificado, recomendava-se fervorosamente ao Senhor, pedindo o bom êxito para tão difícil momento. Narra a Legenda de Santa Clara que ao concluir a oração, ouviu do Senhor estas consoladoras palavras: “Não temas, senhora, pois darás à luz uma luz que iluminar  o mundo inteiro com seu brilho”. Em razão disso, Hortolana teria dado à sua primogênita o nome de Clara, Chiara (pronuncia-se Kiara) (1193). Em 1197 teria Hortolana dado à luz sua segunda filha, Catarina, que depois recebeu de Francisco o nome de Inês ao ingressar na Ordem; ela é conhecida como Santa Inês de Assis. Beatriz é a filha mais nova de Hortolana e também ingressou na Ordem e foi proclamada Bem-aventurada. Nos anos de 1203-1205, a família de Clara foi obrigada a refugiar-se em Perúgia, pois, tendo participado da guerra de Perúgia os nobres Ofreduccio enfileiraram-se, como a maioria dos feudatários, ao lado dos nobres de Perúgia. Depois disso, retornaram a Assis. Hortolana acompanhou, como mãe dedicada e com sua oração fiel, os incríveis acontecimentos relacionados à vocação das duas primeiras filhas Clara e Catarina em março-abril de 1211, quando deixaram o palácio de Assis. Viveu ainda uns quinze ou mais anos em casa, pois parece supor-se que não teria ingressado em São Damião antes de Beatriz. Se realmente Hortolana ingressou ao mesmo tempo que Beatriz, teria vivido uns nove a dez anos de consagração a Deus. Os biógrafos afirmam que Hortolana ingressou no Mosteiro de São Damião depois da morte do marido, mas nenhum dado considerável se tem para estabelecer uma data. Favarone, segundo suposições, teria morrido na mesma época de São Francisco, em 1226. Mas há outra suposição que coloca sua morte como tendo ocorrido antes do ingresso de Clara em São Damião. Há  em Assis um documento de 1228 no qual aparece um elenco de servos punidos que estavam a serviço de um Favarone; esse Favarone bem pode ser o pai de Clara. É quase impossível pensar em outras pessoas com o mesmo nome, habitantes do mesmo condado ou provenientes de castelos vizinhos, com a riqueza e a potência da família de Clara que possuía muitos servos, como por exemplo João de Ventura, que depõe como testemunha no Processo de Canonização de Santa Clara. Enquanto se sabe com certeza que Beatriz ingressou em São Damião em 1229, de Hortolana apenas se diz que “veio depois para a mesma religião que sua santa filha e bem-aventurada Clara, e nela viveu com as outras Irmãs com muita humildade; e na mesma, ornada por santas e religiosas obras, passou desta vida” (cf. ProcC I,4). No Mosteiro de São Damião, Deus agraciou Hortolana com o dom de realizar milagres de curas. Clara mesma enviava sua mãe ao parlatório para que traçasse sobre os doentes o sinal da cruz, e estes ficavam curados. Uma aplicava à outra os méritos da fé miraculosa que realizava a cura dos doentes. Hortolana já  teria morrido em 1238, pois seu nome não aparece no elenco das Irmãs que estavam em São Damião nesta data. Porém não se pode precisar historicamente nada mais além disso. Sua festa é celebrada no dia 02 de janeiro.

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