Bem - Aventurada Francisca de Messer Capitâneo de Collemezzo (+ 1258) - 26 de março
Sob a orientação do Processo de Canonização de Santa Clara nos é permitido reconstituir a vida desta Bem-aventurada, libertando-a de todas as fantasias e amplificações com as quais a complicaram os historiadores franciscanos dos séculos XVI e XVII. Ela mesma, chamada a depor no Processo, como nona testemunha, a 24 de novembro de 1253, qualifica-se: Irmã Francisca de Messer Capitaneo de Col de Mezzo, monja do Mosteiro de São Damião. Declara sob juramento que entrou no Mosteiro no mês de maio de 1232. Deve-se, portanto, ter como infundada a notícia referida por Jacobili e por sucessivos historiadores de que ela entrou em 1213. Segundo esses autores, a filha de Capitâneo, desde a juventude sente o chamado do Divino Esposo. Querendo seus pais casá-la, adoeceu gravemente por seis anos. Os parentes levaram-na a Santa Clara e obtiveram sua cura, mas ela quis ficar no Mosteiro. Esta versão é um transviamento do que Francisca depôs no processo. No Martiriológio Franciscano, a 26 de março se lê: “Em Assis, na Úmbria, Bem-aventurada Francisca de Coldimezzo, virgem, discípula de Santa Clara”. A notícia mais antiga em torno dos condes de Coldimezzo remonta ao século XII, quando Bonconte de Todino de Bonifácio funda o Mosteiro de São Vito no Vale de Óppio e o doa aos Monges Beneditinos. O castelo de Coldimezzo surgia sobre os antigos confins entre a Comuna de Assis e Todi, nas proximidades de Casalalta, perto de Paciliano, que os antigos documentos imperiais assinalavam como termo de divisão entre os dois territórios, Todi e Assis. Atualmente o local aparece como bastante selvagem, com rochedos, selva, restos de mosteiros destruídos e rochas em ruínas. Também do Castelo de Coldimezzo restam somente poucas ruínas, que atestam a solidez dos antigos muros. Os condes eram de estirpe longobarda e disso se gloriavam. Num pergaminho de 11 de maio de 1197, o filho de Bonconte de Collemezzo, o Conde Guido, oferece a igreja de São Vito e Feliciano e mais um terreno no Vale de Óppio, perto do Rio Puglia, ao longo da estrada que conduz ao Castelo de Collemezzo, aos Monges Beneditinos. Guido é devoto, pede em troca aos Monges que rezem por ele e por sua dileta mãe. Bonconte, senhor do Castelo de Coldemezzo nos primeiros anos da segunda metade do século XII é filho de Todino, por sua vez filho de Bonifácio. Em 1189 os filhos de Bonconte, num castelo nas adjacências de Coldinezzo, Castelo Mala Femina, doam todos os seus bens ao Mosteiro, inclusive o Castelo de Coldimezzo. Um pouco antes Massária havia feito a cessão ao Mosteiro de seus direitos. Em 1199, reunidos no mesmo castelo os quatro irmãos com o Abade Rinaldo estreitam um vínculo de perpétuo afeto, quando os Monges prometiam defender a família e honrar e acolher cada um deles e seus descendentes, sempre que o quisessem, no Mosteiro ou nas suas localidades. São tempos difíceis. As cidades comunais se insurgem contra os senhores de castelos. Coldimezzo, colocado nos confins entre Assis e Todi, está entre dois fogos. E os seus condes, seguindo um sistema muito difuso naquela época, procuram a salvação, colocando os seus bens sob a salvaguarda de um poder mais forte, o Mosteiro de São Pedro de Perúgia, cujas possessões vastíssimas confinavam com as de Coldimezzo. Um sentido de angústia antiga brota deste longo pergaminho. O coração revive a ânsia daquele ano. O exército comunal de Assis alcança as fortalezas que surgem nos cumes das colinas e sobre as margens dos rios; muitas torres são destruídas pelas chamas. Os condes fogem de Assis, buscando refúgio em Perúgia. Estava para explodir entre as duas cidades aquela guerra sanguinária, onde São Francisco esteve envolvido, aos dezessete anos. Os senhores de Coldimezzo são perseguidos pelo espectro da fome e da miséria para eles e seus filhos. O Abade Rinaldo procura assegurar-lhes refúgio, acolhendo-os entre seus muros. Este documento é uma prova do drama que a região entre Assis e Perúgia viveu naquele turbulento final de século. Qual foi o fim dos Condes de Coldimezzo? Bonifácio em 1218 foi sagrado bispo por Honório III, para a cidade de Todi e morreu em 1238, depois de ter sido um grande protetor da Ordem nascente dos Frades Menores. Hugolino permaneceu em Perúgia. Guido residiu em Todi. Guido, irmão de Capitâneo, foi o pai de Francisca. Com Bonifácio e Ugolino completa-se o número de filhos de Bonconte, cuja esposa é Massária. Por este motivo, a neta, filha de Capitâneo foi chamada de Massariola, diminutivo do nome da avó. Ao ingressar no Mosteiro em 1232 recebe o nome de Francisca, em honra do Santo Fundador, Francisco de Assis, já canonizado pela Santa Igreja. Capitâneo, pai de Francisca estabeleceu-se em Assis. Além de Massariola, teve um filho de nome Pedro de Capitâneo, que se estabeleceu em Assis numa das casas que ainda hoje permanecem ao longo da rua que vai da praça da Comuna subindo à Catedral de São Rufino. Jamais foi feito cardeal e bispo de Alba, como historiadores posteriomente fantasiaram. No documento de 8 de junho de 1238, que contém o elenco dos nomes das damianitas, não aparece o nome de Francisca de Coldimezzo, ela, que afirmou ter vivido no mosteiro por vinte e um anos, a partir de 1232. Pode-se explicar, considerando que nem todas as irmãs, entrando no mosteiro, mudavam o nome, ou o mudavam imediatamente. Entre as irmãs da lista de 1238 há uma que se chama Massariola, que seria ela mesma. Massariola foi prima de Vana, a esposa de Jacopone de Todi, que convertendo-se após a morte da esposa, tornou-se frade franciscano. Vana era, com efeito, filha de Bernadino de Ugolino, este último irmão do pai de Francisca. Jovem e linda, Vana trazia sempre debaixo das ricas vestes com que acompanhava o marido às festas e danças, um áspero e rude cilício. Ruindo numa ocasião, provavelmente em 1268, o salão onde dançavam, Vana teve uma morte trágica. Depois disso seu marido mudou totalmente o rumo de sua vida vazia e fútil. Em São Damião, Massariola assistiu diretamente ao assalto dos sarracenos, cujo fato narra em detalhes no Processo. No seu depoimento, refere ainda as prodigiosas curas realizadas por Clara; ela mesma foi curada de uma doença grave, que atacava-lhe a cabeça e a fazia gritar de dor. Narra, além disso um episódio singular da doença de Clara, quando uma gatinha teria alcançado para a enferma uma toalha da qual necessitava. No momento da morte, quando Clara comungou, Francisca viu na hóstia o Menino Jesus, de singular beleza. Por estas narrativas extraordinárias, percebe-se que Francisca é uma personalidade atraída pelo sobrenatural, do qual faz contínua experiência em sua vida humilde de São Damião, como o comprovava sua intensa espiritualidade. Teria morrido no ano de 1258.
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